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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Opinião de Francisco Sarsfield Cabral

​A maldição do Brexit

10 jul, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


As negociações da saída britânica da UE estão de novo bloqueadas por uma grave crise no governo de Londres.

Há mais de dois anos – em 23 de junho de 2016 – os britânicos apoiaram, em referendo, a saída do seu país da UE. Foi um resultado inesperado, com o qual nem muitos partidários do Brexit contavam. Entretanto, durante a campanha foram ditas coisas mirabolantes sobre as alegadas vantagens para o Reino Unido de abandonar a UE. Por exemplo, o dinheiro que seria poupado com essa saída iria financiar o Serviço Nacional de Saúde britânico. Sobretudo, não existiam quaisquer planos sérios para negociar o Brexit com Bruxelas.

Daí este fenómeno estranho de as negociações sobre o Brexit não avançarem, não por divergências entre os 27 países que se vão manter na União, mas pela incapacidade das autoridades britânicas se entenderam sobre as propostas do seu país. Incapacidade agravada pelas eleições antecipadas por Theresa May para reforçar, em 2017, a sua maioria na Câmara dos Comuns – dessas eleições resultou, não o reforço, mas a perda da maioria parlamentar da primeira ministra. Esta, agora, no parlamento tem que se apoiar no pequeno partido unionista (contrário à independência) da Irlanda do Norte (Ulster).

Está em curso o mais recente episódio desta espécie de maldição que paira sobre a negociação do Brexit da parte britânica. Na sexta-feira passada, de uma longa reunião do governo de T. May, onde eram muitas as divisões sobre a posição britânica, emergiu uma alegada posição consensual do executivo britânico sobre o assunto. Mas no domingo à noite David Davies, o ministro encarregado de liderar as negociações do lado britânico, demitiu-se por, afinal, não concordar com a tal posição dita consensual…

A demissão de Davies, seguida de uma outra de um ministro que não pertence ao núcleo duro do governo britânico, e, logo a seguir, da mais importante demissão de Boris Johnson, ministro dos Negócios Estrangeiros, reforça a contestação à posição do governo de T. May por parte dos conservadores mais hostis à Europa comunitária. A primeira-ministra encontra-se, assim, cada vez mais vulnerável às críticas vindas do seu próprio partido. E incapaz de ter força negocial em Bruxelas. Mas a data da saída dos britânicos da UE não foi adiada: 29 de março do próximo ano. Uma saída sem acordo será negativa para UE e sobretudo para o Reino Unido.


Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

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