19 jun, 2018
As eleições presidenciais na Colômbia foram ganhas, na segunda volta, por Ivan Duque, um adversário do acordo com o principal grupo colombiano de guerrilha, as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Esse acordo, alcançado há dois anos, valeu o prémio Nobel da paz ao ainda presidente Juan Manuel Santos. Mas foi preciso renegociá-lo, depois de ter sido derrotado em referendo. Foi então aprovado no Parlamento. O que mostra quanto o acordo de paz não é consensual no país; não tem grande apoio entre os colombianos.
A vitória eleitoral de Ivan Duque também teve a ver com o perfil do seu opositor: Gustavo Petro, um ex-guerrilheiro, pareceu a muitos um seguidor do “chavismo” ou do chamado socialismo bolivariano, que tem feito a desgraça da Venezuela.
O presidente eleito afirmou que não iria “governar com ódio”. E que não rasgaria o acordo de paz. Mas pretende alterar alguns pontos do acordo que pôs fim a um mortífero conflito com a guerrilha FARC, conflito que durou nada menos do que meio século.
As mudanças seriam, nomeadamente, “para que as vítimas sejam o centro do processo”; e também para impedir que ex-chefes da guerrilha que tenham sido condenados por crimes contra a humanidade venham a ocupar lugares de deputados no Parlamento.
Teoricamente, o acordo de 2016 até está juridicamente “blindado”, de maneira a que não possa ser alterado até 2026. Mas o novo presidente da Colômbia poderá tentar introduzir modificações através de propostas de emendas constitucionais apresentadas ao Parlamento de Bogotá.
Ivan Duque tem como mentor e referência Álvaro Uribe, presidente da Colômbia entre 2002 e 2010. Durante esses oito anos, Uribe combateu ferozmente a guerrilha; será agora líder parlamentar do partido de I. Duque e continua muito crítico do acordo de paz com os guerrilheiros das FARC. Vai acabar a paz na Colômbia?
Existe esse risco, evidentemente. Mas talvez os cinquenta anos de conflito sangrento tenham feito ver aos homens das FARC que, agora, também é do seu interesse lutar pelos seus ideais no terreno político. E da parte do novo presidente da Colômbia exige-se sentido de Estado e bom senso no que vai exigir aos ex-guerrilheiros, de modo a não pôr em causa a paz tão dificilmente alcançada.