08 jun, 2018
Em entrevista à Renascença, Jean Tirole, Prémio Nobel da Economia, fala sobre poluição, inteligência artificial e outros temas. A entrevista vem a propósito do livro de Tirole, "Economia do Bem Comum", recentemente traduzido para português.
Os políticos, os cientistas sociais, a Igreja — múltiplos intervenientes — opinam sobre o bem comum. Neste contexto, o que é talvez mais característico da Economia é lembrar que não é possível atingir o bem comum sem compreender os interesses privados.
Consideremos o caso concreto da poluição. A evidência científica e económica sugere que as emissões de CO2 são superiores ao que o bem comum exige. No entanto, apesar das múltiplas exortações dirigidas aos países, às empresas e aos consumidores, o ritmo de emissões mantém-se demasiado elevado.
A perspectiva da Economia, como digo, distingue-se pelo ênfase no problema dos incentivos. Não bastam as exortações: até que os agentes "sofram" directamente cada vez que as suas acções contribuem para o nível de CO2, até que isso aconteça o problema manter-se-á, ou inclusivamente tornar-se-á mais grave.
Chegamos assim a uma das propostas de Tirole: que as emissões de carbono seja taxadas. Aliás, a ideia não é de Tirole; trata-se de uma das poucas ideias que reúnem consenso quase universal.
Infelizmente, passadas décadas de debate sobre o problema do CO2, pouco ou nada se fez nesse sentido. Não por falta de vozes (nomeadamente vozes de economistas como Tirole) a favor do imposto sobre o CO2, preferivelmente um imposto único.
A pressão de algumas empresas e de alguns países são os principais responsáveis pela falta de progresso neste campo. Mais uma vez, os interesses privados.