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Honra e emoção. Veteranos portugueses homenageiam militares mortos na Bósnia

02 jun, 2018 • José Pedro Frazão


Numa homenagem sentida, dezena e meia de antigos militares​ foram ao Norte da Bósnia-Herzegovina prestar homenagem no monumento que evoca a memória dos 5 soldados portugueses que perderam a vida em missão naquele país da Ex-Jugoslávia.

Era um objetivo antigo para um grupo de antigos militares, alimentado por longas conversas em convívios de companhias nas unidades de paraquedistas. O dia finalmente chegou, solarengo, para este grupo de veteranos das missões de paz na Bósnia-Herzegovina. Alinhados de casaco e boina verde, gritaram "presente" a cada nome evocado com emoção pelo tenente-coronel na reforma Miguel Machado.

Tudo se passa em Doboj, 160 quilómetros a norte de Sarajevo, no parque central, terreiro de lazer para famílias bósnias e ponto de memórias das guerras do século passado. É lá que está um pequeno memorial dedicado aos militares portugueses que aqui perderam a vida em missão.

"Os cinco militares paraquedistas que agora homenageamos eram nossos camaradas. Estão sempre na nossa mente quando pensamos na Bósnia. Para eles foi uma viagem sem regresso, um drama para as famílias, ainda hoje e para todo sempre profundamente marcadas por estes acontecimentos", diz Miguel Machado, organizador da viagem de regresso a diversos locais percorridos pelas tropas portuguesas na Bósnia.

Num discurso curto e marcado pela emoção, traduzido para o vice-presidente da assembleia municipal de Doboj, Machado lembra que o grupo inclui dois ex-militares que ficaram gravemente feridos em 1996, que manifestaram desejo em regressar por uns dias à Bósnia. Quase todos os veteranos alinhados para a homenagem estiveram nas primeiras missões de apoio à paz na Bósnia.

"Estamos cá porque desejávamos voltar. Desejávamos regressar a este país que tanto nos marcou. Chegámos com o fim da guerra que tanta morte e destruição causou e tivemos uma pequena amostra do que estes povos sofreram. Demos o nosso melhor para que a situação normalizasse, regressámos a Portugal, saímos da Bósnia com a satisfação do dever cumprido. Mas alguma coisa de nós ficou aqui", continua Miguel Machado, invocando também a necessidade de honrar a memória dos camaradas mortos naquele país. No local foram depositadas duas coroas de flores.

Entre janeiro de 1996 e Julho de 2004, morreram os paraquedistas Alcino Mouta, Rui Tavares, José Barradas, Ricardo Souto e Ricardo Valério. Os seus nomes estão gravados numa placa num monumento que ostenta ainda a Cruz de Cristo e o lema "Em Perigos e Guerras Esforçados". O memorial contém ainda um símbolo da Liga dos Combatentes, que assinou em 2016 um protocolo com a Câmara Municipal de Doboj para a manutenção do monumento.

No espaço de quatro dias, o grupo de veteranos portugueses visitou ainda as cidades e vilas onde as tropas nacionais estiveram estacionadas, nomeadamente Rogatica, Gorzade, Viktovici, Ustipraca e Sarajevo.

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