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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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​O melhor espaço para se viver

16 mar, 2018 • Opinião de João Ferreira do Amaral


É perfeitamente defensável dizer que a União Europeia abriu um caminho de decadência que surge hoje para muitos como sendo um regresso ao passado de violência de há oitenta anos.

Um dos argumentos principais invocados pelo conservantismo europeu para preservar a todo o custo os interesses instalados e justificar o crescente e cada vez mais assustador centralismo nas decisões europeias é que a Europa é o continente que tem melhor qualidade de vida e que isso se deve à União Europeia.

Que a Europa seja o continente onde melhor se vive é discutível, como todo este tipo de afirmações (não sei, por exemplo, se os Australianos estariam de acordo) mas do meu ponto de vista é uma afirmação verdadeira, embora menos do que já foi .

No que estou em profundo desacordo é que essa posição invejável se deva à União Europeia. Até surgir a União, ou seja, desde a reconstrução após a II Guerra Mundial até 1992 não tenho dúvidas que a integração económica europeia, seja a da Europa das comunidades (em particular a CEE) seja a da EFTA teve um papel importante na melhoria do nível de vida e do bem-estar dos povos europeus e ajudou a criar um espaço que podemos considerar efectivamente como o melhor para se viver. Mas com a criação da União Europeia, tudo mudou. E é perfeitamente defensável dizer que a União Europeia abriu um caminho de decadência que surge hoje para muitos como sendo um regresso ao passado de violência de há oitenta anos.

Não é um regresso ao passado, mas é igualmente indesejável.

A razão principal que justifica que isto esteja a suceder está no carácter centralista da União, assumido desde o seu início. Ou seja a ideia peregrina de que se pode ter uma Europa forte enfraquecendo os estados que a compõem. O resultado deste princípio em acção só poderia ser um: a sensação de abandono que tomou os eleitorados europeus por verificarem que o seu próprio estado transferiu para um longínquo nível comunitário funções que lhe competiam e que deveriam continuar a competir.

Da sensação de abandono ao populismo e ao puro e simples fascismo vai um pequeno passo. Passo que talvez já tenha sido dado. Mas, imperturbavelmente, todos os dias as instituições da União anunciam mais centralização de decisões e exigências para receberem mais dinheiro.

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  • MASQUEGRACINHA
    16 mar, 2018 TERRADOMEIO 18:20
    "Enfraquecendo os estados que a compõem" sem dúvida, mas com a nítida (e perigosa) excepção da boa e velha Alemanha, anafada de excedentes ilegais e auto-complacências imorais, a aranha no centro da teia centralizadora, que nos vai enredando em cada vez mais dependência e impotência. Por outro lado, e como as lições da história, passada e recente, nos ensinam, basta por vezes um qualquer incidente, para que do "pequeno passo" resulte um grande trambolhão... Não será um regresso ao passado? Não tenho muita certeza disso, afinal até já temos "blocos geopolíticos" a definirem-se dentro, e contra, a União, não é verdade? E os burocratas lá vão tocando harpa enquanto o fogo alastra.