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Opinião de Luís Cabral
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​Habilitações versáteis

09 mar, 2018 • Opinião de Luís Cabral


A melhor estratégia é desenvolver habilitações transferíveis, tais como a capacidade para resolver problemas, de compreender e comunicar com outros, a capacidade de analisar e estruturar dados.

Nos últimos tempos tenho dado várias palestras sobre tecnologia e trabalho no Século XXI, concretamente sobre o impacto que a inteligência artificial terá no emprego. Uma pergunta que me é feita com frequência: Que curso universitário acha mais útil no contexto da nova economia deste século? (Há várias variantes desta pergunta, mas andam todas à volta do mesmo assunto.)

A minha resposta é que formação especializada (e.g., licenciatura em Marketing Estratégico) é menos útil do que formação mais geral e flexível (e.g., licenciatura em História ou Economia); e que há um certo número de ferramentas (análise de dados, capacidade de comunicação, etc) que têm de ser desenvolvidas, ou no contexto da licenciatura ou noutro contexto.

Por outras palavras: é importante ter capacidade de síntese, e para este efeito as licenciaturas que se baseiam num paradigma são muito úteis (e.g., Economia, Matemática, História, Física). E é importante ter capacidade de análise, e para este efeito há uma série de ferramentas necessárias.

Vem isto a propósito de um artigo que li recentemente, da autoria de Theodore Yntema, professor da Universidade de Chicago. Entre outras coisas, escreve ele que "as habilitações especializadas provavelmente tornar-se-ão obsoletas com os desenvolvimentos científicos e tecnológicos". Partindo desta observação, afirma Yntema que a melhor estratégia é desenvolver habilitações transferíveis, tais como a capacidade para resolver problemas, a capacidade de compreender e comunicar com outros, a capacidade de analisar e estruturar dados.

Não podia concordar mais com Yntema. Ele tem a chave para o sucesso no Século XXI.

Foi assim com alguma surpresa que descobri que o artigo de Yntema foi apresentado na Universidade de Chicago em 1964, há mais de meio século.

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  • MASQUEGRACINHA
    10 mar, 2018 TERRADOMEIO 15:59
    "(...) a capacidade para resolver problemas, a capacidade de compreender e comunicar com outros, a capacidade de analisar e estruturar dados." - ora se isto não assenta como um luva na Inteligência Artificial! Inteligentes, mas Artificialmente, eis o que parece ser o nosso destino... ao serviço da Indústria e seus Cavalheiros. Bom, de facto, em 1964, as palavras usadas na definição da dita "chave para o sucesso" (para o sucesso de quê e de quem?) pareciam significar o mesmo que significam agora. Mas não significam, porque o futuro percepcionado por T. Yntema não corresponde, em variáveis importantes, ao futuro que se percepciona hoje - aliás, nem mesmo sequer corresponde já ao nosso presente. Palavras iguais, contextos sistémicos diferentes. Não sendo, portanto, a redescoberta da pólvora, o regresso a T. Yntema ajuda, sem dúvida, a perceber melhor os rumos alternativos (e desvios) da história.
  • João Lopes
    09 mar, 2018 Viseu 09:15
    Interessante artigo do Prof. Luís Cabral: «a formação especializada (e.g., licenciatura em Marketing Estratégico) é menos útil do que formação mais geral e flexível (e.g., licenciatura em História ou Economia); e que há um certo número de ferramentas (análise de dados, capacidade de comunicação, etc) que têm de ser desenvolvidas, ou no contexto da licencia-tura ou noutro contexto». Há pessoas, como o Prof. Yntema que têm “a chave para o sucesso no Século XXI”, mas por vezes são ignorados…