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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Uma resposta de longo prazo

20 fev, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Os problemas estruturais que Rio referiu não são ultrapassáveis até às próximas eleições.

No discurso de encerramento do congresso do PSD, Rui Rio fez um diagnóstico dos mais graves problemas estruturais que travam o desenvolvimento de Portugal. Do envelhecimento da população, onde muito pesa a nossa baixíssima taxa de natalidade, e das consequências disso para a segurança social, até ao combate à crescente desertificação do interior, passando pelo apoio aos idosos pobres e abandonados, foram referidos quase todos os problemas nacionais de fundo, e não meramente conjunturais, do país.

Rio não apresentou soluções concretas nem o poderia fazer, porque a maioria daqueles problemas requer consensos com outros partidos. Com o PS, naturalmente, desde que os socialistas se mantenham fieis ao socialismo democrático. Aliás, é a dependência do governo de A. Costa em relação a dois partidos marxistas, PCP e PE, que impõe a esse governo uma navegação à vista, sem visão credível de futuro. É bonito falar na “união da esquerda”, só que isso não impede que o PS esteja, no essencial, mais perto do CDS do que de um PCP que mantém o totalitarismo soviético como grande referência, ou de um BE que é menos totalitário e monolítico mas não é capaz de apresentar qualquer exemplo real de um coletivismo económico que respeite as liberdades cívicas e políticas.

Enfrentar, com alguma eficácia, os problemas de fundo que Rio abordou levará tempo. Além das negociações com outros partidos, o PSD precisa de formar ou utilizar um “think tank” que estude as possíveis soluções para os nossos bloqueios estruturais. Sabe-se como os partidos que se encontram na oposição geralmente não têm recursos humanos e financeiros para aprofundar seriamente as questões. Por isso o PSD vai recorrer, e bem, a independentes e académicos que, provavelmente de forma não onerosa, irão colaborar na elaboração do programa do partido.

Por outro lado, o clima pré-eleitoral, que dentro de pouco mais de meio ano começaremos a viver em Portugal, não é propício a negociações interpartidárias, antes favorece o acentuar das diferenças. Daí que exigir que o PSD de Rui Rio ganhe as próximas eleições seja um contra senso para quem pretenda tratar com seriedade os obstáculos ao progresso de Portugal. Conseguirá Rio convencer os militantes do PSD que aquilo que está em jogo não são as hábeis manobras de quem pretenda suceder-lhe quanto antes na liderança partidária, mas essa coisa muito falada e ainda mais esquecida que é o interesse nacional?

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