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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Não há dinheiro

13 fev, 2018 • Francisco Sarsfield Cabral • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O subfinanciamento caracteriza grande parte do sector público português. E o privado, das famílias às empresas, também tem falta de dinheiro.

Ficou célebre a resposta, em pleno Conselho de Ministros, do antigo ministro das Finanças Vítor Gaspar a um seu colega que queria autorização para uma despesa: “qual destas três palavras não entendeu: não há dinheiro!”. Aconteceu em plena crise, com a “troika” cá instalada. Mas esse período de cortes violentos já passou. Portugal teve uma “saída limpa” (isto é, sem mais ajudas externas) do programa de assistência, saiu do processo por défice excessivo instaurado pela UE, as agências de “rating” (avaliação de risco) começaram a retirar o nosso país do nível “lixo”, os juros da dívida pública portuguesa estão baixos, a economia cresce, o desemprego desce e até o ministro das Finanças de um país que passou por tão graves apertos é escolhido pelos seus pares para presidir ao Eurogrupo.

Como se compreende, então, que o Serviço Nacional de Saúde esteja subfinanciado, gerando inúmeros problemas em hospitais e centros de saúde, que muitas escolas se encontrem degradadas, que haja falta de meios humanos nas prisões (guardas) e outras entidades judiciárias, que o investimento público tenha sido baixíssimo em 2017, não permitindo a normal manutenção de estradas e outras infraestruturas, que não haja dinheiro suficiente para as forças armadas e para as forças de segurança, etc.? A resposta imediata é simples e tem sido repetida pelos partidos de extrema-esquerda, PCP e BE, que apoiam o governo do PS, mas não concordam com a prioridade que este atribui ao cumprimento das metas acordadas com Bruxelas, sem o qual se voltaria a evaporar a confiança externa em Portugal: a contenção da despesa pública é indispensável para continuar a respeitar aquelas metas. É verdade, mas não é toda a verdade.

A propaganda do fim da austeridade gerou um clima de euforia no país, que teve efeitos positivos no crescimento económico. Mas gerou ilusões sobre o tal fim da austeridade, como se vê pelas sucessivas crises de falta de meios e pelas crescentes greves. E sobretudo esqueceu o essencial: Portugal continua a ser um país relativamente pobre no quadro europeu, mas que pretende beneficiar dos apoios do “modelo social europeu” existente em países mais ricos. Modelo que está em crise, mesmo nesses países, em resultado do envelhecimento da população. Ora a baixíssima natalidade em Portugal agrava esse problema.

E há falta de dinheiro nas famílias, que continuam a endividar-se, e nas empresas, largamente descapitalizadas e também endividadas. Tudo seria mais fácil se tivéssemos um maior crescimento económico. Mas as previsões oficiais, do governo, da UE, etc., sugerem que o crescimento da economia portuguesa não vai acelerar, vai abrandar. E que se voltará a alargar o fosso entre a nossa riqueza e a média europeia.

Não é agradável chamar a atenção para estas realidades, mas ignorá-las impediria o sucesso de qualquer esforço para as modificar.

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