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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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O centro político

12 fev, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Macron e o partido espanhol Cidadãos mostram que o centro político não está morto.

Há um século, a democracia liberal parecia morta e enterrada. O que então se anunciava como sendo o futuro eram os extremos: o fascismo e o nazismo à direita, o comunismo à esquerda. A segunda guerra mundial acabou com os totalitarismos de direita; e o colapso do comunismo com o de esquerda.

A democracia liberal ressuscitou, trazendo crescimento económico e algum apoio social aos deserdados do capitalismo. Mas a derrota do comunismo favoreceu o capitalismo selvagem à direita. Muito antes de Trump, nos EUA os neoconservadores e movimentos extremistas como o “Tea Party” defendiam o direito da força e não a força do direito. Um triunfalismo fatal.

As novas tecnologias e a globalização agravaram as disparidades económicas no interior dos países. Um terreno propício ao reforço dos populismos, de esquerda e de direita. E a frustração com os políticos que já não asseguravam a permanente subida do nível de vida da maioria das pessoas aumentou a atracção por Estados autoritários, com escasso respeito pelos valores da democracia liberal (como a independência do poder judicial).

Putin e o seu Estado autoritário passaram a ser admirados por “democracias iliberais”, como a Hungria e a Polónia, e até por Trump, enquanto à esquerda floresceram grotescos sistemas totalitários reclamando-se do comunismo e do socialismo – China, Coreia do Norte, Venezuela, etc. Em vários outros países, como a Grã-Bretanha, berço da democracia moderna, as tendências políticas extremaram-se, entre um conservadorismo antieuropeu (incluindo contra o seu modelo social) e um esquerdismo obsoleto.

Mas o centro político, que parecia desaparecido, não morreu. As esmagadoras vitórias eleitorais de Macron, em França, mostraram que o europeísmo e a moderação reformista podem ser populares. No mesmo sentido aponta a espetacular subida do partido Cidadãos em Espanha.

Este partido, liderado por jovens (Alberto Rivera, o seu líder nacional, tem 38 anos), nasceu na Catalunha para combater o separatismo e a corrupção. Nas últimas eleições regionais catalãs o partido Cidadãos ficou em primeiro lugar (25%), para o que contribuiu a sua líder regional Inés Arrimadas, uma jovem, corajosa e hábil política.

Mas o sucesso do Cidadãos não se limita à Catalunha: as últimas sondagens indicam que ele se tornou no primeiro partido espanhol. Numa sondagem nacional, há dias, este partido obteve 28% das intenções de voto, superando o Parido Popular (22%) e a sua própria votação nacional em 2016 (13%). O anúncio da morte do centro político parece, assim, um tanto prematuro.

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