26 jan, 2018
O Presidente Trump fala hoje no fórum de Davos. Antes dele chegaram ali 13 altos funcionários americanos, entre os quais o ministro do Comércio e o ministro das Finanças. Estes têm falado e não escondem a política proteccionista que os EUA seguem e vão acentuar. Steven Mnuchin, responsável pelo Tesouro (Finanças), afirmou que “obviamente, um dólar mais fraco é bom para nós (EUA)”. Ora o dólar caiu 10% em relação ao euro ao longo de 2017, e só neste mês de Janeiro baixou mais 3%. Mnuchin acrescentou que o que é bom para os EUA é bom para o resto do mundo.
Esta última frase lembra uma célebre declaração de um ministro de Eisenhower, Charles Wilson, antigo CEO da General Motors (GM), que em 1952 afirmou que “o que é bom para a GM é bom para os EUA e vice-versa”... Por seu turno, o Secretário de Estado do Comércio, Wilbur Ross, disse que “guerras comerciais acontecem todos os dias; há uma guerra comercial em curso há já algum tempo”.
É, assim, claro o rumo proteccionista da política comercial dos EUA. E que a arma cambial será utilizada – já é. Ao longo das guerras comerciais dos anos 30 do século passado multiplicaram-se as desvalorizações monetárias competitivas: um país desvalorizava a sua moeda para tornar mais concorrenciais as exportações e logo os rivais respondiam desvalorizando as respectivas moedas, numa espiral em que todos acabavam por perder e só serviu para acentuar a Grande Depressão. A administração Trump parece não ter memória.
Defender publicamente um dólar baixo para ajudar as empresas exportadoras inverte a política seguida por Washington durante 25 anos. Lawrence Summers, professor em Harvard e ex-ministro de Obama, criticou a nova política cambial dos EUA. Explica ele que, se um câmbio baixo do dólar estimula a curto prazo as exportações americanas, ao mesmo tempo encarece as importações, diminuindo o poder de compra da população dos EUA – é uma forma de empobrecimento. E induz o banco central americano, a Reserva Federal, a subir mais as taxas de juro. Além, nota L. Summers, de levar os países concorrentes a retaliarem com desvalorizações competitivas. Por isso, para Summers, um dólar forte é do interesse nacional americano.
Um dólar baixo implica um euro demasiado alto. É negativo para as exportações europeias, incluindo as portuguesas. Mas Draghi não parece preocupado com a valorização do euro. Que irá prosseguir, até porque o BCE irá manter os seus estímulos monetários e poderá mesmo aumentá-los, caso seja necessário para evitar o abrandamento económico.
A subida do euro em relação ao dólar, sendo globalmente prejudicial para nós, portugueses, tem pelo menos um benefício: como o petróleo é transacionado em dólares, a recente subida de preço do “crude” é atenuada pela alta do euro. Ontem a moeda única europeia valia quase um dólar e um quarto.