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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Um parto difícil

22 jan, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Sem entusiasmo, o SPD deu luz verde a negociações formais com Merkel para formar um governo de coligação.

O congresso extraordinário do SPD aprovou ontem, por uma maioria relativamente curta (56%), o acordo de princípio obtido por Merkel e Schulz para formar uma coligação entre os dois maiores partidos alemães. Não foi fácil – os opositores ao acordo foram até mais aplaudidos do que os seus defensores.

Mas o processo não terminou: haverá, ainda, um referendo entre os 440 mil militantes do SPD que decidirá se o partido aceita, ou não, o texto final das negociações formais entre os dois partidos que se vão iniciar. Não surpreende esta falta de entusiasmo do SPD em se coligar, de novo, com a CDU-CSU para governar a Alemanha. As duas anteriores coligações com Merkel fizeram o SPD perder votos. Perda que, segundo as sondagens, continua depois das eleições de 23 de Setembro passado.

A UE em geral e a França de Macron em particular esperam com alguma ansiedade que este processo acabe bem. O SPD é hoje um partido muito mais europeísta do que o presente partido liberal (FDP), que o foi no passado; o FDP fez abortar a anterior tentativa de coligação, que incluía também os Verdes. Mas antes do fim de Março não haverá governo na RFA.

As dificuldades em avançar com a “grande coligação” devem alertar-nos para as resistências na Alemanha a grandes reformas na UE e na zona euro. O próprio partido democrata-cristão da Baviera (CSU), aliado da CDU de Merkel, colocou reservas a muitas das medidas propostas por Macron para concretizar essas reformas.

Na semana passada a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, incitou a Alemanha a reduzir o seu excedente nas contas externas - 8% do PIB, o maior do mundo. Estimular mais a procura interna alemã seria uma ajuda às importações provenientes de outros Estados membros da UE, como Portugal.

Pois logo surgiu Weidmann, governador do Bundesbank e possível sucessor de Draghi à frente do BCE, opondo-se a C. Lagarde e aplaudindo os sucessivos e enormes excedentes externos alemães. O que contraria a coordenação de políticas económicas entre os países do euro – coordenação que os alemães apenas aceitam quando se trata de impor restrições orçamentais.

Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus

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