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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Proteger a paisagem

16 jan, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O Alto Douro ganhou uma batalha. Falta vencer a guerra.

O Alto Douro tem uma das paisagens mais extraordinárias do mundo. Em 2001, a UNESCO inclui-a no seu património mundial.

No entanto, essa paisagem tem sido por vezes ameaçada por obras faraónicas que empresas portuguesas ou estrangeiras com sede em Portugal tentam concretizar. Foi o caso, há uma década, de uma estrada muito acima do rio Douro, empreendimento caríssimo que alegadamente visava evitar inundações no pavimento da via, algo que poderia acontecer com uma “cheia milenar” do rio, isto é, cuja probabilidade de ocorrer era uma vez em mil anos.

Entretanto, a estrada existente reagia mal a algumas cheias do Douro, porque tinha deficiências de construção. A nova estrada iria prejudicar boa parte da paisagem do Alto Douro superior, o que suscitou uma campanha pública contra a sua construção – campanha felizmente bem sucedida.

Temos, agora, uma nova ameaça: a construção pela REN de um gasoduto, para fazer uma outra ligação a Espanha e França para o transporte de gás natural. Ora o traçado do gasoduto “produzirá um impacto directo, negativo, muito significativo e dificilmente minimizável ou compensável” no Alto Douro Vinhateiro, diz a Direcção-Geral do Património.

Este organismo do Estado manifesta-se contra a “intrusão de uma infraestrutura com carácter industrial, descaracterizadora do território e dos seus usos, comprometendo a integridade e o carácter, nomeadamente visual, desta Paisagem Cultural”.

Outras entidades, aliás, se haviam pronunciado neste sentido, como a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ou a Comissão de Coordenação do Norte. E multiplicam-se afirmações de políticos contra a desertificação do interior, que este gasoduto (com o traçado proposto pela REN) naturalmente iria agravar.

Como ontem escreveu no “Público” um jornalista que conhece bem aquela região, Manuel Carvalho, “o Douro, martirizado pela gula do betão e sugado pelas empresas de energia que nada lhe devolvem, ganhou finalmente uma batalha”. Esperemos que ganhe também a guerra.

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