10 jan, 2018
Quem vai ser o 18.º titular da cadeira mais importante da São Caetano à Lapa? Rui Rio, o ex-autarca do Porto e ex-vice-presidente do PSD, ou Pedro Santana Lopes, o ex-autarca de Lisboa e ex-presidente do PSD (além de primeiro-ministro)? Por estes dias, a direita portuguesa agita-se. Mas que direita? E agita-se em nome de quê?
Comecemos pela primeira questão. É quase tão difícil ser-se de direita em Portugal como proclamar-se socialista nos EUA! E o problema não é de agora. Desde que, vai para dois séculos, a revolução liberal pulverizou a Igreja, a aristocracia e a propriedade, num país pobre e analfabeto, e ergueu um Estado macrocéfalo, tábua rasa do passado e retoricamente reformista – embora sempre parco de recursos – toda a gente na política se declarou “progressista”, porque a liberdade só poderia ser o fomento e não havia nada para “conservar”.
A moderação conservadora transformou-se, assim, em “meio-termo pasteleiro”, acusado de retrógrado ou inútil durante a Monarquia, e de reaccionário ou inimigo durante a República. Até 1926, o liberalismo raramente foi de direita; e de 1926 a 1974, a direita, ressuscitada pelo caos da “democracia” republicana, nunca foi liberal. Passado o PREC, a direita que temos tido nasceu no centro-esquerda ou no centro, e acabou, quando muito, no centro-direita. O PPD-PSD e o CDS dizem-se, ou eram, partidos de social-democracia e de democracia-cristã. Só o inchamento do PCP e do PS após a Revolução explicam que aqueles tenham deslizado para a direita.
O salazarismo já lá vai há muito; mas a sua memória e a suposta superioridade moral das esquerdas (exacerbada pelo politicamente correto), faz com que dizer-se de direita (liberal e democrática, entenda-se) ainda requeira coragem, num país que, fora o Estado Novo, esteve sempre tombado para a esquerda. Vai sendo tempo de acabar com este estigma e com este desequilíbrio. O debate político precisa de projectos alternativos, de controvérsia saudável, de mercado de escolhas. A existência de uma verdadeira direita democrática, opondo-se construtivamente a uma esquerda democrática (e vice-versa) é prova de maturidade do sistema político – e a este propósito, o nosso ainda é bastante imaturo.
Daí a segunda questão. Quem se diz de direita e quer uma direita, o que é que quer afinal? Discutir candidaturas (Rio ou Santana) tem de ser um meio para um fim, e não um fim em si mesmo. O que é que cada um deles pensa e verbaliza, de abrangente e prospectivo, para o país – sobre o Estado e as suas funções, sobre a sociedade civil e a sua vitalidade; sobre a educação, a economia, o trabalho e a sustentabilidade do estado social; sobre o indivíduo, a família, as relações intergeracionais e o bem-estar colectivo; sobre a cultura, a memória, o património e os valores; sobre a inovação, a competitividade ou o ambiente; ou sobre o país na Europa e no mundo? O que querem, e projectam, que seja Portugal daqui a dez, quinze ou vinte anos?
Na voragem mediática dos dias de hoje, crê-se que a opinião pública não se interessa por aquilo que os políticos dizem, mas apenas pelo que sentem ou parecem. Não é bem verdade. Candidaturas puramente personalistas, sem uma mundivisão, não servem, porque não mobilizam.
Sendo directo, Rio e Santana não entusiasmam. Do que deles ouvimos, há ajustes de contas a mais e pensamento a menos. E francamente, a direita precisa de ser bem mais do que um mero cálculo acerca da melhor maneira de chegar ao poder – se à boleia de António Costa, se contra António Costa. Na hora da sua partida, é justo reconhecer que Pedro Passos Coelho teve um desígnio e apresentou resultados, que aliás alavancaram o alívio económico hoje sentido. Poderão Rui Rio ou Pedro Santana Lopes algum dia fazer melhor?